COMUNISMO X CAPITALISMO
A grosso modo, poderíamos dizer que Comunismo seria, mais ou menos, uma forma de Socialismo ou uma consequência dele. A noção de Socialismo tem origem na Revolução Francesa. Mas, até Karl Marx só havia o Socialismo que depois passou a ser chamado de Socialismo Utópico. Aí veio Marx e propôs, baseado no método filosófico-científico chamado Materialismo Histórico Dialético, um outro socialismo, que é chamado de Socialismo Científico.
A questão é que os socialistas anteriores acreditavam e defendiam uma sociedade na qual não existem classes sociais ou nem uma outra forma de desigualdade, na qual as propriedades privadas, principalmente os meios de produção, fossem de todos, para uso igual e justo de todos. Alguns deles afirmava que à ela se chegaria quando a classe dominante (a burguesia) adquirisse consciência acerca das injustiças.
O que Marx - basicamente - fez, e que esses socialistas anteriores não fizeram, é, primeiramente, tecer uma crítica profunda e consistente do sistema em vigor. Para isso, formulou/desenvolveu conceitos como mais-valia, meios-de-produção e força de trabalho, entre outros. Depois, mostrou como a mudança para essa sociedade deveria acontecer, pensando as condições sociais e econômicas necessárias para que isso se desse, enquanto seus antecessores apenas acreditavam que um dia, naturalmente, isso aconteceria sem luta de classes, enquanto que, para Marx, é unicamente por meio da luta de classes que a revolução seria possível. Marx não acreditava que a mudança nas estruturas sociais e econômicas que perpetuam as desigualdades seria realizada por um iniciativa daqueles que dessas desigualdades se beneficiam, ou seja, a classe dominante. Segundo ele, era preciso que os dominados, ou seja, os trabalhadores do mundo unisse-se se quisessem perder os seus grilhões.
Para Marx essa mudança não aconteceria naturalmente ou sem esforço. Só se daria - resumidamente - por meio da revolução, quando a classe dominada (o proletariado, ou seja, os trabalhadores) rejeitando a exploração à qual sempre estiveram expostos, tomassem o poder e instaurassem um governo seu, fazendo a Reforma Agrária e estatizando/coletivizando as empresas privadas, colocando fim ao julgo da burguesia. Já o que chamamos de Comunismo, segundo Marx, seria o estágio final de uma sociedade na qual vigorasse o Socialismo Científico.
O Capitalismo e a Globalização tem mantido laços estreitos desde que nasceram. Tal é a ligação entre eles que poder-se-ia dizer serem gêmeos-siameses. Nascidos no século XV, a Globalização começou a ser gestada com as Grandes Navegações, outrossim, o Capitalismo foi veio à luz com o fim do Feudalismo. Ambos, Capitalismo e Globalização são filhos da burguesia já ascendida ao posto de classe dominante. Juntos, tem moldado nossos hábitos, especialmente aqueles ligados ao consumo. Se, por um lado, a Globalização faz com que determinados elementos culturais (especialmente das culturas e nações dominantes dentro da hierarquia global) se transformem em produtos que são consumidos no mundo todo; por outro, o Capitalismo, ao priorizar a acumulação de capital (ou seja, o lucro) faz com que o consumo seja estimulado intensamente por meio de publicidade, criando novas demandas, antes inexistentes, para novos produtos.
Jacques Decornoy (in MARQUES) coloca em relevo o fato de que a suposta promoção da integração, da aceitação e da valorização das diversidades prometidas pela Globalização se efetiva apenas na medida em que atende aos interesses do capital estrangeiro e preconizando a valorização da cultural ocidental. Nos países pobres o direito a essa tal integração é negado às suas massas, cuja única função é produzir, a baixos custos, que será consumido naqueles países. De um lado os países do sul: pobres, subdesenvolvidos, excluídos, e dependentes da exportação para os países ricos. De outro, os países do norte: ricos, desenvolvidos, incluídos, integrados, globalizados, explorando, ao seu bel prazer “os vizinhos de baixo”, e vivenciando as apregoadas benesses do capitalismo.
Seria possível mudar essa situação mantendo o Capitalismo como sistema político-econômico? Ora, sendo o lucro a prioridade dentro deste sistema, concluiremos - quase inevitavelmente - que qualquer medida que afete ou reduza o lucros (como a redução do consumo), não seria colocada em prática e seria vista como uma ameaça em vez de uma solução. E antes que se diga que o Comunismo não é uma opção melhor que o Comunismo sob a alegação de que ele todas as tentativas de implementa-lo falharam, lembremos que em nenhum dos países que tentaram pô-lo em pática viveram apenas experiências socialistas, nunca jamais tendo chegado o estágio do Comunismo. Primeiramente, a Rússia passou por uma experiência Socialista, não Comunista, durante os anos que a União Soviética vigorou, isto é, entre 1917 e 1991.
A Coréia deixou de ser um único país após a Guerra da Coreia, entre 1945 e 1953. A República Popular da Coréia ou Coréia do Norte, desde então, tem passado por uma experiência socialista também, assim como Cuba, que desde a Revolução Cubana (1959), também vive um modelo socialista. O comunismo nunca foi implantando em nenhum país pois, sendo ele um sistema econômico e político elaborado por Marx, ele seria o estágio final da evolução de uma sociedade socialista. Nenhuma das nações que tentaram o Socialismo - repito - chegaram ao estágio do Comunismo, por isso ele permanece com opção viável ao desigual e injusto sistema vigente que permite que 1% da população do planeta possua a mesma riqueza dos outros 99% da população.
Além do mais, na medida em que uma sociedade adere ao Capitalismo, o valor de seus indivíduos passa a ser medido pelo seu trabalho (e o preço pago por este varia de acordo com "o mercado") e pelo que consomem. Hoje, no Capitalismo, mais em qualquer época e em qualquer sistema político-econômico, consumir se tornou um ritual, para qual templos foram construídos em direção aos quais, milhões se dirigem todos os dias, em peregrinação: os shopping centers. O incentivo ao consumo está em toda parte: anúncios nos intervalos dos programas de tv, dentro do programas e dos filmes, nas redes sociais, por sms, nos outdoors, etc...
Desse modo, quando uma sociedade capitalista, por causa de suas desigualdades tão intrínsecas quanto basilares, não consegue oferecer a todos os seus membros as mesma possibilidades de renda por meio de um trabalho que possam lhe propiciar determinado padrão consumo, a parte menos favorecida dessa população irá, quase que inevitavelmente, buscar alternativas para obter poder de compra e assim poder consumir, pois mesmo que apenas inconscientemente, eles sabem que só assim terão algum valor dentro de sociedade, que é calcada no individualismo e na supervalorização da imagem e da aparência.
Ostentar uma roupa ou calçado de determinada marca - mesmo que seja um produto falsificado - é, nessa sociedade, um exercício (fútil, enganoso) de construção da própria identidade, bem como a autoestima. Portanto, usar a meritocracia para dizer que em nossa sociedade só adere ao crime quem não tem caráter, é um pressuposto vazio, raso, desprovido de dialética. O problema é muito mais complexo, a questão é bem mais profunda.
"Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!"
[Trecho da Internacional Comunista.]
FONTES:
CANETTI, Elias. Massa e Poder. Brasília/UniB: Melhoramentos, 1983.
GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 7ª ed., 1987.
HINDESS, Barry e HIRST, Paul Q.. Modos de Produção Pré-Capitalistas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
LEONARD, Annie. A História da Coisas. Rio de Janeiro.: Zahar, 2011.
MARQUES, Ademar (Org.). História do tempo presente. São Paulo: Contexto, 2003.
MARX, Karl e ENGELS, Friederich. O Manifesto Comunista. São Paulo: Contraponto, 1998.
WILLIAMS, Eric. Capitalismo de Escravidão. Rio de Janeiro: Americana, 1975.
A questão é que os socialistas anteriores acreditavam e defendiam uma sociedade na qual não existem classes sociais ou nem uma outra forma de desigualdade, na qual as propriedades privadas, principalmente os meios de produção, fossem de todos, para uso igual e justo de todos. Alguns deles afirmava que à ela se chegaria quando a classe dominante (a burguesia) adquirisse consciência acerca das injustiças.
O que Marx - basicamente - fez, e que esses socialistas anteriores não fizeram, é, primeiramente, tecer uma crítica profunda e consistente do sistema em vigor. Para isso, formulou/desenvolveu conceitos como mais-valia, meios-de-produção e força de trabalho, entre outros. Depois, mostrou como a mudança para essa sociedade deveria acontecer, pensando as condições sociais e econômicas necessárias para que isso se desse, enquanto seus antecessores apenas acreditavam que um dia, naturalmente, isso aconteceria sem luta de classes, enquanto que, para Marx, é unicamente por meio da luta de classes que a revolução seria possível. Marx não acreditava que a mudança nas estruturas sociais e econômicas que perpetuam as desigualdades seria realizada por um iniciativa daqueles que dessas desigualdades se beneficiam, ou seja, a classe dominante. Segundo ele, era preciso que os dominados, ou seja, os trabalhadores do mundo unisse-se se quisessem perder os seus grilhões.
Para Marx essa mudança não aconteceria naturalmente ou sem esforço. Só se daria - resumidamente - por meio da revolução, quando a classe dominada (o proletariado, ou seja, os trabalhadores) rejeitando a exploração à qual sempre estiveram expostos, tomassem o poder e instaurassem um governo seu, fazendo a Reforma Agrária e estatizando/coletivizando as empresas privadas, colocando fim ao julgo da burguesia. Já o que chamamos de Comunismo, segundo Marx, seria o estágio final de uma sociedade na qual vigorasse o Socialismo Científico.
O Capitalismo e a Globalização tem mantido laços estreitos desde que nasceram. Tal é a ligação entre eles que poder-se-ia dizer serem gêmeos-siameses. Nascidos no século XV, a Globalização começou a ser gestada com as Grandes Navegações, outrossim, o Capitalismo foi veio à luz com o fim do Feudalismo. Ambos, Capitalismo e Globalização são filhos da burguesia já ascendida ao posto de classe dominante. Juntos, tem moldado nossos hábitos, especialmente aqueles ligados ao consumo. Se, por um lado, a Globalização faz com que determinados elementos culturais (especialmente das culturas e nações dominantes dentro da hierarquia global) se transformem em produtos que são consumidos no mundo todo; por outro, o Capitalismo, ao priorizar a acumulação de capital (ou seja, o lucro) faz com que o consumo seja estimulado intensamente por meio de publicidade, criando novas demandas, antes inexistentes, para novos produtos.
Jacques Decornoy (in MARQUES) coloca em relevo o fato de que a suposta promoção da integração, da aceitação e da valorização das diversidades prometidas pela Globalização se efetiva apenas na medida em que atende aos interesses do capital estrangeiro e preconizando a valorização da cultural ocidental. Nos países pobres o direito a essa tal integração é negado às suas massas, cuja única função é produzir, a baixos custos, que será consumido naqueles países. De um lado os países do sul: pobres, subdesenvolvidos, excluídos, e dependentes da exportação para os países ricos. De outro, os países do norte: ricos, desenvolvidos, incluídos, integrados, globalizados, explorando, ao seu bel prazer “os vizinhos de baixo”, e vivenciando as apregoadas benesses do capitalismo.
“... acentua a dependência na qual os países do Terceiro Mundo se debatem... em nome da mundialização, da ‘globalização’ pretensamente frutuosa dos intercâmbios. Dependência? Certamente. [...] O futuro não é nada radioso: os países industrializados tornaram-se cada vez mais protecionistas...” [DECORNOY, Jacques. Desenvolvimento e Pobreza.]Outros autores, aprofundando-se no lado contraditório da Globalização, no qual integração e união de diferentes povos e culturas dá-se somente num plano teórico, ou, então, no que se refere à capacidade de transformar elementos de povos e culturas diversos em produtos para serem consumidos pelos que detém o capital financeiro. As massas, porém, que formam os fluxos de excluídos que migram das regiões mais pobres (menos globalizadas) para as mais ricas (mais globalizadas), cujo único produto a oferecer é sua mão-de-obra, são excluídas ou privadas desse processo globalizador, devido ao endurecimento das leis contra a imigração nos países considerados desenvolvidos. Todavia, se por um lado os imigrantes são ojerizados pelas populações desses países, para suas economias eles são desejados, pela abundância e pelo baixo valor de sua mão-de-obra.
“Na época da globalização dos mercados, em que o capital e as empresas derrubam as fronteiras das nações, o homem – principalmente o homem menos culto e mais pobre – vê surgir novas barreiras a impedi-lo de vender a única mercadoria que realmente lhe pertence: sua força de trabalho.” (MARQUES, Clovis.)Ato contínuo, desta relação mutualista entre globalização e capitalismo advém problemas contemporâneos como o Consumismo (que é o consumo irrefreado, irracional e exagerado), o desperdício (consequência de quando se consome mais do que se necessita), a poluição gerada pelo excesso de lixo (que poderia ser reduzido se reduzíssemos o consumo individual e se as práticas da reutilização e da reciclagem estivessem satisfatoriamente difundidas e implementadas), bem como o esgotamento do recursos naturais por conta de uma exploração que ultrapassa o limites naturais de regeneração de nosso planeta.
Seria possível mudar essa situação mantendo o Capitalismo como sistema político-econômico? Ora, sendo o lucro a prioridade dentro deste sistema, concluiremos - quase inevitavelmente - que qualquer medida que afete ou reduza o lucros (como a redução do consumo), não seria colocada em prática e seria vista como uma ameaça em vez de uma solução. E antes que se diga que o Comunismo não é uma opção melhor que o Comunismo sob a alegação de que ele todas as tentativas de implementa-lo falharam, lembremos que em nenhum dos países que tentaram pô-lo em pática viveram apenas experiências socialistas, nunca jamais tendo chegado o estágio do Comunismo. Primeiramente, a Rússia passou por uma experiência Socialista, não Comunista, durante os anos que a União Soviética vigorou, isto é, entre 1917 e 1991.
A Coréia deixou de ser um único país após a Guerra da Coreia, entre 1945 e 1953. A República Popular da Coréia ou Coréia do Norte, desde então, tem passado por uma experiência socialista também, assim como Cuba, que desde a Revolução Cubana (1959), também vive um modelo socialista. O comunismo nunca foi implantando em nenhum país pois, sendo ele um sistema econômico e político elaborado por Marx, ele seria o estágio final da evolução de uma sociedade socialista. Nenhuma das nações que tentaram o Socialismo - repito - chegaram ao estágio do Comunismo, por isso ele permanece com opção viável ao desigual e injusto sistema vigente que permite que 1% da população do planeta possua a mesma riqueza dos outros 99% da população.
Além do mais, na medida em que uma sociedade adere ao Capitalismo, o valor de seus indivíduos passa a ser medido pelo seu trabalho (e o preço pago por este varia de acordo com "o mercado") e pelo que consomem. Hoje, no Capitalismo, mais em qualquer época e em qualquer sistema político-econômico, consumir se tornou um ritual, para qual templos foram construídos em direção aos quais, milhões se dirigem todos os dias, em peregrinação: os shopping centers. O incentivo ao consumo está em toda parte: anúncios nos intervalos dos programas de tv, dentro do programas e dos filmes, nas redes sociais, por sms, nos outdoors, etc...
Desse modo, quando uma sociedade capitalista, por causa de suas desigualdades tão intrínsecas quanto basilares, não consegue oferecer a todos os seus membros as mesma possibilidades de renda por meio de um trabalho que possam lhe propiciar determinado padrão consumo, a parte menos favorecida dessa população irá, quase que inevitavelmente, buscar alternativas para obter poder de compra e assim poder consumir, pois mesmo que apenas inconscientemente, eles sabem que só assim terão algum valor dentro de sociedade, que é calcada no individualismo e na supervalorização da imagem e da aparência.
Ostentar uma roupa ou calçado de determinada marca - mesmo que seja um produto falsificado - é, nessa sociedade, um exercício (fútil, enganoso) de construção da própria identidade, bem como a autoestima. Portanto, usar a meritocracia para dizer que em nossa sociedade só adere ao crime quem não tem caráter, é um pressuposto vazio, raso, desprovido de dialética. O problema é muito mais complexo, a questão é bem mais profunda.
"Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!"
[Trecho da Internacional Comunista.]
FONTES:
CANETTI, Elias. Massa e Poder. Brasília/UniB: Melhoramentos, 1983.
GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 7ª ed., 1987.
HINDESS, Barry e HIRST, Paul Q.. Modos de Produção Pré-Capitalistas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
LEONARD, Annie. A História da Coisas. Rio de Janeiro.: Zahar, 2011.
MARQUES, Ademar (Org.). História do tempo presente. São Paulo: Contexto, 2003.
MARX, Karl e ENGELS, Friederich. O Manifesto Comunista. São Paulo: Contraponto, 1998.
WILLIAMS, Eric. Capitalismo de Escravidão. Rio de Janeiro: Americana, 1975.
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