REVOLUÇÃO INGLESA: CARACTERÍSTICAS E CONSEQUÊNCIAS

Inicialmente, cabe deixar claro que a Revolução Inglesa é uma denominação genérica dada ao conjunto de acontecimentos que, juntos, levaram à uma profunda transformação das estruturas políticas, econômicas e sociais da Inglaterra no século XVII, mas que não deve ser confundida com a Revolução Industrial, ocorrida também na Inglaterra, mas no século seguinte. De modo sucinto, podemos relacionar tais acontecimentos, seguidos de suas características e consequências, do seguinte modo:

• A GRANDE REVOLUÇÃO (1640-1642)
   Parlamento Longo X Monarquia Absolutista

• REVOLUÇÃO PURITANA
    Anglicanismo X Puritanismo/Calvinismo

• GUERRA CIVIL (1642-1648)
   Parlamento Longo X Monarquia Absolutista
              apoiado pelos apoiada pelos
          Puritanos Anglicanos e Católicos

• REPÚBLICA DE CROMWELL (1649-1658)
   Criação do Exército Revolucionário (New Model Army)
   Surgimento da ideologia política radical dos Niveladores
   Prisão e execução do Rei Carlos I
   Proclamação da República

Se nos aprofundarmos em conhecer as consequências desses eventos, que mudaram de tal forma aquelas estruturas (acima mencionadas) na Inglaterra a partir de 1640, aponto de serem denominados historicamente de Revolução Inglesa, deveremos levar em conta aquelas que surgiram durante a própria Revolução, e não somente as que se seguiram a ela. Assim, teremos:

CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS
1) Gradual enfraquecimento do poder real, que passava a ser cada vez mais limitado, e fortalecimento das instituições democráticas, como o parlamento, que ia se desvencilhando dos interesses das elites, dado o crescimento das classes burguesas.
2) Convocação do Parlamento Longo, em 1640 ( durou até 1953), passando para a Câmara dos Comuns, então dominada pela oposição, todo o poder de iniciativa política, e abolição dos principais instrumentos de poder da Monarquia Absolutista, como os tribunais de privilégio, assim como os impostos e taxas instituídos pelo Rei sem a provação do parlamento.
3) Tomada de medidas, por parte do Parlamento para assegurar sua existência, como o Trienal Act, que o convocava automaticamente a cada 3 anos caso a Monarquia não o fizesse.
4) Início da Guerra Civil após a Revolta da Irlanda, levando a oposição, até então coesa, a se dividir, enquanto o Rei, antes fraco, se fortalecia.
5) Formação de 2 partidos políticos: os Independentes e os Presbiterianos, que tiveram importante papel da Guerra Civil. Os primeiros eram politicamente radicais, e, apoiados pela gentry, pelo yeomen e pela burguesia manufatureira, apoiavam a guerra até sua última conseqüência, isto é, o fim da Monarquia. Os segundos, por sua vez, eram moderados e mais conservadores, dispostos a estabelecer um acordo com o Rei. Eram apoiados pela burguesia urbana e pela aristocracia rural.
6) Aprovação, pelo parlamento, do Ato de Abnegação, entregando o controle do exército aos militares, e modificação do sistema estatal tradicional, com o surgimento dos comitês revolucionários nos condados.
7) Fim da Guerra Civil, vencida pelo Parlamento. O motivo de preocupação dos vencedores mudou, deixando de ser a Monarquia Absolutista, agora derrotada, para se incorporar da figura do New Model Army e do Partido dos Niveladores, surgido em 1646.
8) A disputa pelo poder político entre Presbiterianos e Independentes se acirra. Enquanto os primeiros te o controle do Parlamento, os segundo controlavam o exército e tinham o apoio do Partido do Niveladores.
9) Com a proclamação da República em 19 de Maio de 1649, Cromwell se volta para seus opositores, esmagando o Partido Nivelador, expurgando os realistas do Parlamento, abolindo a Câmara dos Lordes, e desse modo, destruindo a democracia, instalando um regime ditatorial.
10) Proibição da manutenção de um exército em tempo integral, a fim de evitar a ocorrência novos golpes e revoluções, colaborando assim para conservação da ordem estabelecida.

CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS
1) Fim do sistema de terras coletivas e de eventuais resquícios do sistema feudal com a privatização das terras propiciada pelos cercamentos legais, criando uma espécie de revolução rural.
2) Rígido controle político dos gastos públicos, com a aprovação anual, pelo parlamento, de um orçamento, evitando desperdícios e desvio de recursos do Estado.
3) O tesouro passou a ser controlado, sob complexa burocracia, pelo parlamento, com o intuito de organizar e otimizar os gastos públicos.
4) Criação do Banco da Inglaterra, possibilitando o investimento estatal através de empréstimos à setores estratégicos da economia, como as indústrias manufatureiras, criando assim um terreno fértil para Revolução Industrial, que se seguiria.
5) Com o fim do regime Absolutista, resultado final da Revolução Inglesa, a permanência dos monopólios, concedidos pela Monarquia seguindo interesses que não se adequavam às necessidades de eficiência comercial, foi se tornando insustentável, sendo necessário, à medida que se estabelecia o Capitalismo nascente, uma mudança em seu sistema.
6) Com bases criadas para o desenvolvimento de uma economia capitalista e industrial, a Inglaterra cresceu, tornando uma nação imperialista, e assim, com o suporte de sua potente frota naval, expandiu seus domínios para as terras do além-mar conquistando, nos séculos seguintes, importantes domínios coloniais, como a Índia.

Há, entre os historiadores, uma divergência em se determinar se a Revolução Inglesa (e dentro dela, a Guerra Civil) teria sido um conflito de classes, ou de natureza político-religiosa. No entanto, existe consenso em um ponto: o papel da burguesia, ao contrário do que ocorreu na Revolução Francesa, não foi marcante ou decisivo no conflito. Também é fato que, na Guerra Civil, o Parlamento e seus seguidores encontraram maior apoio nas regiões da Inglaterra onde o capitalismo nascente estava mais adiantado, enquanto seus opositores, os realistas apoiadores da Monarquia Absolutista, eram mais benquistos nas regiões onde o feudalismo ainda persistia.

Portanto, é correto afirmar que o conjunto de acontecimentos históricos denominados de Revolução Inglesa, incluindo a desastrosa – sob certos aspectos – República de Cromwell, contribuiu para apagar os últimos resquícios do sistema feudal e abrir caminho para o desenvolvimento do Capitalismo e para o advento da Revolução Industrial além de consolidar, para a Inglaterra, um lugar como potência marítima e imperialista durante um longo período, até as grandes guerras do século XX. Ipso facto, é dessa revolução também o mérito de ter, entes que qualquer outra, tornado possível, pela primeira vez, a conquista da liberdade civil e política pela sociedade – ou, ao menos, por uma parte considerável dela.


FONTES:

ARRUDA, José Jobson de Andrade. A revolução inglesa. Brasília: Brasiliense, 1984.
HILL, Christopher. A bíblia inglesa e as revoluções do século XVII. Editora Record, 2003.
HILL, Christopher. O eleito de Deus: Oliver Cromwell e a Revolução Inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
STONE, Lawrence. Causas da Revoluçao Inglesa: 1529-1642. Edusc, 2000.

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