FALÁCIAS DO PÓS-MODERNISMO E DO IDENTITARISMO
Sou militante de esquerda e ativo defensor da lutas das minorias, como negros, LGBTs e mulheres, mas percebo que está faltando senso dialético quando os assuntos são ''apropriação cultural'', "lugar de fala", "protagonismo" e "vivência".
APROPRIAÇÃO CULTURAL
Turbantes são usados na península Indiana e no Oriente Médio, em regiões onde hoje situam-se países tão diversos quanto a Arábia Saudita ou o Sri Lanka, e por grupos étnicos tão distintos como os árabes, os persas, o yazidis, os hindus, os pashtuns, dentre outros. Não surgiram na África, ainda que fossem usados amplamente no continente. A própria palavra "turbante", etimologicamente, tem sua origem no termo persa "dulband", ou no termo turco "tülbent".
Dreds, por sua vez, não foram inventados pelos jamaicanos adeptos do Rastafarianismo. Foram encontrados dreds em múmias descobertas no Peru, datadas de 200 a 800 d.C., e no México, datadas dos séculos XIV e XV. Sua presença na Terra, historica e geograficamente, também é antiga e ampla: já são usados pelo menos desde o século XV pelos Sikhs, da região do Punjab, iniciados ou nãao na Ordem Khalsa.
Um pouco abaixo do mapa, na Índia, seguidores de uma seita do Hinduísmo chamada Sadhu, que venera o deus Shiva, também usam esses cabelos emaranhados há mais de mil anos. Há ainda alguns budistas do Japão e os maori da Nova Zelândia, entre os quais os dreds também são um tradição secular, anterior ao Rastafarianismo das ilhas caribenhas.
Toda cultura é fruto de apropriações, assimilações e reinterpretações de costumes, objetos e elementos variados de outras culturas. Nenhuma cultura ou povo possui a patente incontestável de coisa alguma. Esse conceito de "apropriação cultural", portanto, do modo como vem sendo empregado por movimentos ditos "sociais", não possui qualquer respaldo histórico, geográfico, antropológico, sociológico ou mesmo arqueológico.
Se formos optar por esse tipo de segregação, então, o que fazer em relação ao uso da calça jeans, que foi inventada nos EUA, pelo industrial Levi lascante (mais conhecido como Levi Strauss, criador da marca Levi's) para ser usada pelos brancos que trabalhavam na mineração/garimpo?
E o que dizer do zíper, que nasceu com o nome francês de ''fecho éclair'', mas foi inventado nos EUA pelo engenheiro Whitcomb Judson e aperfeiçoado pelo inventor sueco Gideon Sundback? E o sapato e as sandálias, que teriam surgido no Egito antigo, ou o tenis, que teria surgido na Inglaterra, ou o boné e o chapéu (no formato que hoje conhecemos, com abas por todos os lados), que teriam sido inventados na Grécia antiga, ou até mesmo os óculos, que foram inventados pelo chineses?
Uma coisa é coibir ou proibir atos de ferem um pessoa, física, psicólogica, moral ou emocionalmente, como os diversos modos por meio dos quais o racismo, o machismo, a misoginia e a homofobia se manisfestam, como ofensas verbais, agressões físicas, segregação política e espacial, discriminação sexual e religiosa, etc.
Outra é querer interferir no que as pessoas usam. E aí dizer que uma mulher branca que usa um turbante Nagô esteja ofendendo a cultura e o povo negro, é, ao meu ver, o mesmo que dizer que eu ofendo os orientais por ter um yin-yang tatuado na perna. Fazer isso seria afirmar que as coisas possuem valores que lhe são intrínsecos, quando na verdade o valor de cada objeto, cultural ou religioso, está na mente e na crença de cada um, sendo-lhe portanto extrínseco, pois um objeto é apenas um objeto, e o significado somos nós que lhe damos.
Não podemos negar que seja um problema grave uma mulher negra ser discriminada, sendo chamada ''macumbeira'' ou de ''feiticeira'', por usar essas indumentárias, enquanto uma mulher que é branca, quando usa-as, é vista como ''moderna'', ''na moda'', ''antenada nas tendencias''. Mas a questão central aí, não é usar ou não usar o turbante, mas sim o preconceito racial e religioso.
Querem proibir mulheres brancas e caucasianas de usarem turbantes, por exemplo, alegando que esse seria um traço cultural dos povos africanos ou afro-descendentes. Ora, o turbante é usado há séculos por homens e mulheres na região da península Indo-asiática, e há milênios por homens na região do Oriente Médio e da península Arábica
Não é dizendo apenas ''não use'' ou ''não pode usar'' que o problema será resolvido. Se com as drogas isso nunca funcionou, por que funcionaria com vestimentas? É preciso abrir o debate, expor as razões e buscar a conscientização. Não é ''cagando regra'' e querendo dizer o que as pessoas podem ou não usar, que a questão se resolverá.
Os grupos que lutam contra o racismo, o machismo, a homofobia e a transfobia precisam escolher se querem amigos, simpatizantes e aliados, ou se querem inimigos e adversários.Precisam decidir se querem conquistar a igualdade e construir um mundo onde haja comunhão, ou se querem a guerra.
Como disse Raul Seixas ''nunca se vence uma guerra lutando sozinho / cê sabe que gente precisa estar em contato / com toda essa força contida que vive guardada / o eco de suas palavras não repercute em nada / é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro / evita o aperto de mão de um possível aliado..''
LUGAR DE FALA E PROTAGONISMO
Quando o uso de conceitos como "lugar de fala" e "protagonismo" tem validade lógica?
Ora, quando se trata de dizer o que é sofrer com o machismo, a misoginia, a homofobia, transfobia, o racismo.
Somente mulheres sabem o que é sentir na pele o machismo e a misoginia.
Somente homossexuais sabem o que é sentir na pele a homofobia.
Somente transexuais sabem o que é sentir na pele a transfobia.
Somente negros/pretos sabem o que é sentir na pele o racismo.
Isso é "lugar de fala".
Protagonismo é ter a dianteira das lutas e das reivindicações, é poder liderar os movimentos. Só quem pode fazer isso é quem faz parte dos grupos oprimidos: mulheres, pretos, homossexuais, transexuais. É simplesmente descabido ter um homem querendo protagonizar ou liderar um grupo Feminista, ou um branco querendo liderar e protagonizar a luta contra o Racismo, ou um heterossexual querendo protagonizar ou liderar a luta contra a homofobia.
E essas lutas eu apoio e seguirei apoiando, e não pelo que publico ou deixo de publicar no Facebook, mas especialmente na vida e rotina de professor, levando esses temas apara sala de aula e possibilitando o debate, a reflexão, a autoconsciência, o engajamento e o empoderamento.
O problema é que os membros dessas minorias ou desses movimentos sociais querem estender o uso desses dois conceitos para tudo e assim, muitas vezes, simplesmente não aceitam ser questionados de modo algum.
É um modo de tentar impor sua verdade de modo autoritário e sem ter que se submeter oa debate e à discussão. Com isso eu não irei colaborar.
Se você, homem e mulher negros, querem acreditar que o turbante e o dredlock fazem parte da cultura negra e pertencem à cultura negra, fique à vontade. Se isso te conforta, se isso te deixa mais feliz, continuem acreditando nisso, até mesmo porque acreditar (ter fé), é diferente de questionar (isto é, pensar, usar razão).
Disso decorre o caráter religioso que muitos movimentos sociais tem adquirido: certas "verdades" são impostas como sendo absolutas, incontestáveis, como novos dogmas, e qualquer um que delas discorde é hostilizado, excluído, linchado, tratado como "herege".
O problema da a fé é que ela não se atém aos fatos, ela não dá primazia à lógica e à objetividade, mas sim à subjetividade e aos sentimentos. E os fatos, infelizmente, mostram que essa crença à qual vocês se apegam não é verdadeira, ou seja, que esses elementos culturais não são exclusivos dos grupos étnicos de origem africana.
Aí cabe a você escolher: você prefere uma mentira confortável e agradável ou a verdade, mesmo que seja incômoda?
VIVÊNCIA
Um princípio muito usado pelos grupos considerados minoritários - no âmbito da representatividade sócio-político-econômica, não da quantidade numérica - para defender seus pontos de vista, suas lutas e suas pautas de reivindicação é o da ''vivência''.
A vivência seriam a experiencias de opressão e discriminação vividas por aqueles que pertencem aos grupos oprimidos e discriminados e nossa sociedade judaico-cristã-ocidental, eurocÊntrica, machista, patriarcal, heterocentrada e heteronormativa, como as mulheres, os negros, os homossexuais, bissexuais e transsexuais.
Esse é um princípio excelente, de grande valor, pois dá suporta ao justo estabelecimento de quem tem ou não mérito para exercer o protagonismo dessas lutas, assim como empodera aqueles que durantes séculos foram marginalizados, excluídos, explorados, discriminados, subjugados e oprimidos.
O problema, contudo, é o uso do princípio da vivência de modo falaciosamente axiomático, como se fosse um argumento incontestável e indelével. Ora, se o argumento da vivência for assim tão infalível quanto alguns militantes parecem crer, então o que dizer de algumas vivências, como a do jovem negro Fernando Holiday, que tem se notabilizado por afirmar que a luta contra o racismo é vitimismo e que, ao negro, basta o esforço e o mérito - obtidos não por meio de lutas sociais - para que ele consiga a igualdade? Essa vivência, que usada para deslegitimar toda a luta anti-racista, seria também irrefutável, absoluta e infalível?
E o que dizer da vivência daqueles que dizem serem ex-homossexuais? E sobre a vivência das mulheres que criticam o feminismo? Quais são os critérios usados para estabelecer se uma vivência é válida ou não? E, sendo a vivência algo tão pessoal, subjetivo e instransferível, como estabelecer critérios racionais, universais e objetivos para avalia-las?
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Por fim, Todas as culturas, de todos os povos, são fruto do contato e da troca com outros povos. Nenhuma cultura é pura, livre de influencias estrangeiras, assim como nenhum ser humano é uma ilha. Por isso, pode usar dredlocks sim, pode usar turbantes sim. Seja você branco o preto, homem ou mulher, heterossexual ou homossexual, latino-americano ou africano, asiático ou europeu.
Disse e repito:
"Não cometam o erro de susbstituir a verdade por aquilo que vocês gostariam que fosse a verdade."
E acrescento:
"Não cometam o erro de acatar mentiras e falácias sob a alegação de que refuta-las ou questiona-las seria uma forma de opressão."
APROPRIAÇÃO CULTURAL
Turbantes são usados na península Indiana e no Oriente Médio, em regiões onde hoje situam-se países tão diversos quanto a Arábia Saudita ou o Sri Lanka, e por grupos étnicos tão distintos como os árabes, os persas, o yazidis, os hindus, os pashtuns, dentre outros. Não surgiram na África, ainda que fossem usados amplamente no continente. A própria palavra "turbante", etimologicamente, tem sua origem no termo persa "dulband", ou no termo turco "tülbent".
Dreds, por sua vez, não foram inventados pelos jamaicanos adeptos do Rastafarianismo. Foram encontrados dreds em múmias descobertas no Peru, datadas de 200 a 800 d.C., e no México, datadas dos séculos XIV e XV. Sua presença na Terra, historica e geograficamente, também é antiga e ampla: já são usados pelo menos desde o século XV pelos Sikhs, da região do Punjab, iniciados ou nãao na Ordem Khalsa.
Um pouco abaixo do mapa, na Índia, seguidores de uma seita do Hinduísmo chamada Sadhu, que venera o deus Shiva, também usam esses cabelos emaranhados há mais de mil anos. Há ainda alguns budistas do Japão e os maori da Nova Zelândia, entre os quais os dreds também são um tradição secular, anterior ao Rastafarianismo das ilhas caribenhas.
Toda cultura é fruto de apropriações, assimilações e reinterpretações de costumes, objetos e elementos variados de outras culturas. Nenhuma cultura ou povo possui a patente incontestável de coisa alguma. Esse conceito de "apropriação cultural", portanto, do modo como vem sendo empregado por movimentos ditos "sociais", não possui qualquer respaldo histórico, geográfico, antropológico, sociológico ou mesmo arqueológico.
Se formos optar por esse tipo de segregação, então, o que fazer em relação ao uso da calça jeans, que foi inventada nos EUA, pelo industrial Levi lascante (mais conhecido como Levi Strauss, criador da marca Levi's) para ser usada pelos brancos que trabalhavam na mineração/garimpo?
E o que dizer do zíper, que nasceu com o nome francês de ''fecho éclair'', mas foi inventado nos EUA pelo engenheiro Whitcomb Judson e aperfeiçoado pelo inventor sueco Gideon Sundback? E o sapato e as sandálias, que teriam surgido no Egito antigo, ou o tenis, que teria surgido na Inglaterra, ou o boné e o chapéu (no formato que hoje conhecemos, com abas por todos os lados), que teriam sido inventados na Grécia antiga, ou até mesmo os óculos, que foram inventados pelo chineses?
Uma coisa é coibir ou proibir atos de ferem um pessoa, física, psicólogica, moral ou emocionalmente, como os diversos modos por meio dos quais o racismo, o machismo, a misoginia e a homofobia se manisfestam, como ofensas verbais, agressões físicas, segregação política e espacial, discriminação sexual e religiosa, etc.
Outra é querer interferir no que as pessoas usam. E aí dizer que uma mulher branca que usa um turbante Nagô esteja ofendendo a cultura e o povo negro, é, ao meu ver, o mesmo que dizer que eu ofendo os orientais por ter um yin-yang tatuado na perna. Fazer isso seria afirmar que as coisas possuem valores que lhe são intrínsecos, quando na verdade o valor de cada objeto, cultural ou religioso, está na mente e na crença de cada um, sendo-lhe portanto extrínseco, pois um objeto é apenas um objeto, e o significado somos nós que lhe damos.
Não podemos negar que seja um problema grave uma mulher negra ser discriminada, sendo chamada ''macumbeira'' ou de ''feiticeira'', por usar essas indumentárias, enquanto uma mulher que é branca, quando usa-as, é vista como ''moderna'', ''na moda'', ''antenada nas tendencias''. Mas a questão central aí, não é usar ou não usar o turbante, mas sim o preconceito racial e religioso.
Querem proibir mulheres brancas e caucasianas de usarem turbantes, por exemplo, alegando que esse seria um traço cultural dos povos africanos ou afro-descendentes. Ora, o turbante é usado há séculos por homens e mulheres na região da península Indo-asiática, e há milênios por homens na região do Oriente Médio e da península Arábica
Não é dizendo apenas ''não use'' ou ''não pode usar'' que o problema será resolvido. Se com as drogas isso nunca funcionou, por que funcionaria com vestimentas? É preciso abrir o debate, expor as razões e buscar a conscientização. Não é ''cagando regra'' e querendo dizer o que as pessoas podem ou não usar, que a questão se resolverá.
Os grupos que lutam contra o racismo, o machismo, a homofobia e a transfobia precisam escolher se querem amigos, simpatizantes e aliados, ou se querem inimigos e adversários.Precisam decidir se querem conquistar a igualdade e construir um mundo onde haja comunhão, ou se querem a guerra.
Como disse Raul Seixas ''nunca se vence uma guerra lutando sozinho / cê sabe que gente precisa estar em contato / com toda essa força contida que vive guardada / o eco de suas palavras não repercute em nada / é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro / evita o aperto de mão de um possível aliado..''
LUGAR DE FALA E PROTAGONISMO
Quando o uso de conceitos como "lugar de fala" e "protagonismo" tem validade lógica?
Ora, quando se trata de dizer o que é sofrer com o machismo, a misoginia, a homofobia, transfobia, o racismo.
Somente mulheres sabem o que é sentir na pele o machismo e a misoginia.
Somente homossexuais sabem o que é sentir na pele a homofobia.
Somente transexuais sabem o que é sentir na pele a transfobia.
Somente negros/pretos sabem o que é sentir na pele o racismo.
Isso é "lugar de fala".
Protagonismo é ter a dianteira das lutas e das reivindicações, é poder liderar os movimentos. Só quem pode fazer isso é quem faz parte dos grupos oprimidos: mulheres, pretos, homossexuais, transexuais. É simplesmente descabido ter um homem querendo protagonizar ou liderar um grupo Feminista, ou um branco querendo liderar e protagonizar a luta contra o Racismo, ou um heterossexual querendo protagonizar ou liderar a luta contra a homofobia.
E essas lutas eu apoio e seguirei apoiando, e não pelo que publico ou deixo de publicar no Facebook, mas especialmente na vida e rotina de professor, levando esses temas apara sala de aula e possibilitando o debate, a reflexão, a autoconsciência, o engajamento e o empoderamento.
O problema é que os membros dessas minorias ou desses movimentos sociais querem estender o uso desses dois conceitos para tudo e assim, muitas vezes, simplesmente não aceitam ser questionados de modo algum.
É um modo de tentar impor sua verdade de modo autoritário e sem ter que se submeter oa debate e à discussão. Com isso eu não irei colaborar.
Se você, homem e mulher negros, querem acreditar que o turbante e o dredlock fazem parte da cultura negra e pertencem à cultura negra, fique à vontade. Se isso te conforta, se isso te deixa mais feliz, continuem acreditando nisso, até mesmo porque acreditar (ter fé), é diferente de questionar (isto é, pensar, usar razão).
Disso decorre o caráter religioso que muitos movimentos sociais tem adquirido: certas "verdades" são impostas como sendo absolutas, incontestáveis, como novos dogmas, e qualquer um que delas discorde é hostilizado, excluído, linchado, tratado como "herege".
O problema da a fé é que ela não se atém aos fatos, ela não dá primazia à lógica e à objetividade, mas sim à subjetividade e aos sentimentos. E os fatos, infelizmente, mostram que essa crença à qual vocês se apegam não é verdadeira, ou seja, que esses elementos culturais não são exclusivos dos grupos étnicos de origem africana.
Aí cabe a você escolher: você prefere uma mentira confortável e agradável ou a verdade, mesmo que seja incômoda?
VIVÊNCIA
Um princípio muito usado pelos grupos considerados minoritários - no âmbito da representatividade sócio-político-econômica, não da quantidade numérica - para defender seus pontos de vista, suas lutas e suas pautas de reivindicação é o da ''vivência''.
A vivência seriam a experiencias de opressão e discriminação vividas por aqueles que pertencem aos grupos oprimidos e discriminados e nossa sociedade judaico-cristã-ocidental, eurocÊntrica, machista, patriarcal, heterocentrada e heteronormativa, como as mulheres, os negros, os homossexuais, bissexuais e transsexuais.
Esse é um princípio excelente, de grande valor, pois dá suporta ao justo estabelecimento de quem tem ou não mérito para exercer o protagonismo dessas lutas, assim como empodera aqueles que durantes séculos foram marginalizados, excluídos, explorados, discriminados, subjugados e oprimidos.
O problema, contudo, é o uso do princípio da vivência de modo falaciosamente axiomático, como se fosse um argumento incontestável e indelével. Ora, se o argumento da vivência for assim tão infalível quanto alguns militantes parecem crer, então o que dizer de algumas vivências, como a do jovem negro Fernando Holiday, que tem se notabilizado por afirmar que a luta contra o racismo é vitimismo e que, ao negro, basta o esforço e o mérito - obtidos não por meio de lutas sociais - para que ele consiga a igualdade? Essa vivência, que usada para deslegitimar toda a luta anti-racista, seria também irrefutável, absoluta e infalível?
E o que dizer da vivência daqueles que dizem serem ex-homossexuais? E sobre a vivência das mulheres que criticam o feminismo? Quais são os critérios usados para estabelecer se uma vivência é válida ou não? E, sendo a vivência algo tão pessoal, subjetivo e instransferível, como estabelecer critérios racionais, universais e objetivos para avalia-las?
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Por fim, Todas as culturas, de todos os povos, são fruto do contato e da troca com outros povos. Nenhuma cultura é pura, livre de influencias estrangeiras, assim como nenhum ser humano é uma ilha. Por isso, pode usar dredlocks sim, pode usar turbantes sim. Seja você branco o preto, homem ou mulher, heterossexual ou homossexual, latino-americano ou africano, asiático ou europeu.
Disse e repito:
"Não cometam o erro de susbstituir a verdade por aquilo que vocês gostariam que fosse a verdade."
E acrescento:
"Não cometam o erro de acatar mentiras e falácias sob a alegação de que refuta-las ou questiona-las seria uma forma de opressão."
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