PESQUISA, CIÊNCIA E CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Apesar do conhecimento não ser uma capacidade exclusivamente humana, o diferencia aquele obtido e produzido pelo do homem é o nível de complexidade que este é capaz de atingir. Este conhecimento humano é, por sua vez, múltiplo podendo ser classificado em: científico, filosófico, popular e religioso. O conhecimento científico, especificamente, apesar da ausência de consenso acerca de sua definição, é uma denominação que pode ser aplicada a todo conhecimento que:
• É fruto de questionamento a uma área do saber;
• Se origina de procedimentos transmissíveis e compartilháveis;
• Se expõe ao questionamento e à refutação;
Para dizer, cientificamente, o que é o conhecimento científico, é preciso, antes, estabelecer as diferenças entre ele e os demais tipos de conhecimento, a começar pelo conhecimento vulgar ou popular, também chamado de senso comum. Na vida quotidiana do homem, em diferentes tempos e espaços, estes dois conhecimentos sempre coexistiram, mesclando-se, com maior predominância do senso comum sobre a ciência quanto mais primitivo for a sociedade em questão. Ambos se baseiam na experiência diária, na observação dos fenômenos naturais e na tentativa de compreendê-los, sendo assim, empíricos. No entanto, o conhecimento popular possui caráter informal e assistemático, limitando suas racionalidade e objetividade às suas inerentes subjetividade e superficialidade, pois não é capaz de ultrapassar os limites da experiência pessoal e quotidiana a fim de obter um conhecimento mais global, profundo e sistemático, como ocorre no conhecimento científico. Por isso, não formula hipóteses, mas apenas opiniões sobre a realidade.
O conhecimento filosófico assemelha-se à ciência por partir da experiência, mas difere-se dela por basear-se tão somente na razão (ou especulação racional), e não na experimentação, como é próprio ao método científico. Enquanto a ciência, em sua multiplicidade de campos, debruça-se sobre cada parte da realidade, isto é, os fenômenos, a filosofia procura analisá-la e explicá-la em sua totalidade, aspirando um saber universal. À ciência interessa explicar as coisas e os fenômenos mutáveis e instáveis em sua particularidade, enquanto a filosofia busca compreender a idéias gerais, universais, imutáveis e estáveis que governam a realidade.
Por fim, o conhecimento religioso diferencia-se dos demais por não ser racional, baseando-se na fé, e por ter a pretensão de ter sido revelado por um ser sobre-humano, uma divindade. Por isso, não é verificável nem falível, pois suas evidências não podem ser postas em dúvida pelo fiel, sob o risco de despertar a ira divina. Obter este conhecimento é, assim, um ato de aceitação. Ele é também sistemático, porque procura explicar a realidade como um todo, ligando suas causas primeira e final à vontade divina. É absoluto enquanto o conhecimento científico é relativo.
Já o conhecimento científico procura explicar a realidade, mas o faz seguindo certos passos, ou seja, que passa por etapas determinadas, a saber:
1 - Formulação do problema: Qual é o problema? Como abordá-lo?
2 - Planejamento da pesquisa: Quais variáveis utilizar? Quais hipóteses podem-se formular? Como obter os dados? Qual a metodologia a ser empregada?Qual seve ser a abordagem empregada? Que materiais utilizar?
3 - Coleta de dados: Como proceder na aplicação da metodologia escolhida?
4 - Análise e interpretação de dados: Como agrupá-los, selecioná-los, representá-los, compará-los, testá-los e descrevê-los? Que conclusões podemos tirar?
5 - Comunicação da pesquisa: Como levar os resultados da pesquisa ao conhecimento público?
O conhecimento científico é real, baseado em fatos, coisas e fenômenos, contingente, sistemático, verificável, falível, passível de questionamento e refutação, é aproximadamente exato, baseia-se na razão, na experiência e na experimentação, e pode ser dividido em formal e material.
No entanto, vivemos um período de crise, onde passamos lentamente do paradigma moderno para o pós-moderno. E a modernidade, entendida como uma forma de pensar, explicar, organizar e se portar diante da realidade, é um advento do século XVI, baseado na crença (algo irracional) de que a razão (ironicamente) é única fonte de explicações verdadeiras para a realidade e seus fenômenos; de que o homem, portanto, é superior aos demais seres e é capaz de regera si ao seu destino, por ser dotado desta faculdade; que a ciência – assim como a filosofia – é, por seu caráter racionalista, capaz de fornecer explicações seguras, imparciais e objetivas; que a razão leva à uma evolução cada vez maior a sociedade, de modo a novas geração serão sempre mas avançadas que as antigas; e que a democracia é melhor, mais justa e mais racional forma de organização social.
Na pós-modernidade, todos esses pilares nos quais nossa concepção de mundo ainda se sustenta estariam ruindo, já que não há verdade que não seja porta em xeque, em dúvida. Vivemos assim, uma era de incertezas, onde não espaço para verdades absolutas. Por que, então (pergunta que não quer calar) nossa visão de ciência – contraditoriamente pouco científica – ainda preserva certas crenças, onde ela é vista como algo infalível, exato, proporcionadora de explicações seguras e imutáveis sobre uma realidade que é mutável, inconstante e instável? É preciso abdicar desta visão radical e dogmática sobre a ciência, e aceitar o fato de que ela é falível, fragmentária e sujeita à contingências e refutações.
Ao pesquisador, principalmente ao jovem que se inicia nessa atividade, é preciso lembrar:
• Que pesquisar é aventurar-se no inexplorado, onde nenhuma ideia deve ser descartada antes de ser devidamente analisada.
• Que toda pesquisa produzirá explicações apenas parciais e provisórias, já que é feita a partir do ponto de vista particular do pesquisador, o qual não é onisciente e está inserido na história.
• Que toda pesquisa, ao lançar um olhar novo sob um objeto, (re)inventa-o. O olhar novo não é definitivo, nem melhor, nem pior que o anterior.
• Se um mundo é “um eterno fluir”, nosso pensamento e nossas explicações devem também mudar, pois cristalizá-los é perder-se no tempo.
• Não existe visão, pesquisa, explicação ou discurso que seja imparcial ou neutro.
• A ciência deve estar atrelada à ética, sendo erro fatal dispor-se a fazer tudo em nome dela.
• Não existe um método universalmente válido para a pesquisa científica, mas também não há pesquisa sem um método válido.
• Que todo conhecimento é um bem coletivo que deve ser divulgado.
• Que nenhuma pesquisa produzirá uma verdade que transcenda o tempo e o espaço no qual se circunscrevem o pesquisador, sua pesquisa e seu objeto.
• Mesmo sendo parcial, contingente e falível, o conhecimento pode contribuir para melhorar de algum modo o mundo.
BIBLIOGRAFIA:
ABRÃO, Bernadette Siqueira, org. História da Filosofia, Coleção Os Pensadores. 1ª ed. – São Paulo: Ed. Abril, 2004
BIERLEIN, J. F. Mitos Paralelos. 1ª ed. – Rio de Janeiro: Ed. Ediouro, 2004.
BOFF, Leonardo. O Despertar da Águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da Realidade. 15ª ed. – Petrópolis, R.J., Ed. Vozes, 1998.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed., 5ª reimp. – São Paulo: Ed. Ática, 2005.
CHAUÍ, Marilena. Filosofia – Ensino Médio. 1ª ed., 3ª reimp. – São Paulo: Ed. Ática, 2004.
CHAUÍ, Marilena, FERES, Olgária e SILVA, Franklin Leopoldo e, et al. Primeira Filosofia: Lições Introdutórias. 7ª ed. – São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987.
COSTA, Marisa Vorraber. Uma Agenda para jovens Pesquisadores.
GILES, Thomas Ransom. Introdução à Filosofia. 3ª ed. – São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodogia Científica. 6ª Ed. 4ª reimp. São Paulo: Atlas, 2007.
• É fruto de questionamento a uma área do saber;
• Se origina de procedimentos transmissíveis e compartilháveis;
• Se expõe ao questionamento e à refutação;
Para dizer, cientificamente, o que é o conhecimento científico, é preciso, antes, estabelecer as diferenças entre ele e os demais tipos de conhecimento, a começar pelo conhecimento vulgar ou popular, também chamado de senso comum. Na vida quotidiana do homem, em diferentes tempos e espaços, estes dois conhecimentos sempre coexistiram, mesclando-se, com maior predominância do senso comum sobre a ciência quanto mais primitivo for a sociedade em questão. Ambos se baseiam na experiência diária, na observação dos fenômenos naturais e na tentativa de compreendê-los, sendo assim, empíricos. No entanto, o conhecimento popular possui caráter informal e assistemático, limitando suas racionalidade e objetividade às suas inerentes subjetividade e superficialidade, pois não é capaz de ultrapassar os limites da experiência pessoal e quotidiana a fim de obter um conhecimento mais global, profundo e sistemático, como ocorre no conhecimento científico. Por isso, não formula hipóteses, mas apenas opiniões sobre a realidade.
O conhecimento filosófico assemelha-se à ciência por partir da experiência, mas difere-se dela por basear-se tão somente na razão (ou especulação racional), e não na experimentação, como é próprio ao método científico. Enquanto a ciência, em sua multiplicidade de campos, debruça-se sobre cada parte da realidade, isto é, os fenômenos, a filosofia procura analisá-la e explicá-la em sua totalidade, aspirando um saber universal. À ciência interessa explicar as coisas e os fenômenos mutáveis e instáveis em sua particularidade, enquanto a filosofia busca compreender a idéias gerais, universais, imutáveis e estáveis que governam a realidade.
Por fim, o conhecimento religioso diferencia-se dos demais por não ser racional, baseando-se na fé, e por ter a pretensão de ter sido revelado por um ser sobre-humano, uma divindade. Por isso, não é verificável nem falível, pois suas evidências não podem ser postas em dúvida pelo fiel, sob o risco de despertar a ira divina. Obter este conhecimento é, assim, um ato de aceitação. Ele é também sistemático, porque procura explicar a realidade como um todo, ligando suas causas primeira e final à vontade divina. É absoluto enquanto o conhecimento científico é relativo.
Já o conhecimento científico procura explicar a realidade, mas o faz seguindo certos passos, ou seja, que passa por etapas determinadas, a saber:
1 - Formulação do problema: Qual é o problema? Como abordá-lo?
2 - Planejamento da pesquisa: Quais variáveis utilizar? Quais hipóteses podem-se formular? Como obter os dados? Qual a metodologia a ser empregada?Qual seve ser a abordagem empregada? Que materiais utilizar?
3 - Coleta de dados: Como proceder na aplicação da metodologia escolhida?
4 - Análise e interpretação de dados: Como agrupá-los, selecioná-los, representá-los, compará-los, testá-los e descrevê-los? Que conclusões podemos tirar?
5 - Comunicação da pesquisa: Como levar os resultados da pesquisa ao conhecimento público?
O conhecimento científico é real, baseado em fatos, coisas e fenômenos, contingente, sistemático, verificável, falível, passível de questionamento e refutação, é aproximadamente exato, baseia-se na razão, na experiência e na experimentação, e pode ser dividido em formal e material.
No entanto, vivemos um período de crise, onde passamos lentamente do paradigma moderno para o pós-moderno. E a modernidade, entendida como uma forma de pensar, explicar, organizar e se portar diante da realidade, é um advento do século XVI, baseado na crença (algo irracional) de que a razão (ironicamente) é única fonte de explicações verdadeiras para a realidade e seus fenômenos; de que o homem, portanto, é superior aos demais seres e é capaz de regera si ao seu destino, por ser dotado desta faculdade; que a ciência – assim como a filosofia – é, por seu caráter racionalista, capaz de fornecer explicações seguras, imparciais e objetivas; que a razão leva à uma evolução cada vez maior a sociedade, de modo a novas geração serão sempre mas avançadas que as antigas; e que a democracia é melhor, mais justa e mais racional forma de organização social.
Na pós-modernidade, todos esses pilares nos quais nossa concepção de mundo ainda se sustenta estariam ruindo, já que não há verdade que não seja porta em xeque, em dúvida. Vivemos assim, uma era de incertezas, onde não espaço para verdades absolutas. Por que, então (pergunta que não quer calar) nossa visão de ciência – contraditoriamente pouco científica – ainda preserva certas crenças, onde ela é vista como algo infalível, exato, proporcionadora de explicações seguras e imutáveis sobre uma realidade que é mutável, inconstante e instável? É preciso abdicar desta visão radical e dogmática sobre a ciência, e aceitar o fato de que ela é falível, fragmentária e sujeita à contingências e refutações.
Ao pesquisador, principalmente ao jovem que se inicia nessa atividade, é preciso lembrar:
• Que pesquisar é aventurar-se no inexplorado, onde nenhuma ideia deve ser descartada antes de ser devidamente analisada.
• Que toda pesquisa produzirá explicações apenas parciais e provisórias, já que é feita a partir do ponto de vista particular do pesquisador, o qual não é onisciente e está inserido na história.
• Que toda pesquisa, ao lançar um olhar novo sob um objeto, (re)inventa-o. O olhar novo não é definitivo, nem melhor, nem pior que o anterior.
• Se um mundo é “um eterno fluir”, nosso pensamento e nossas explicações devem também mudar, pois cristalizá-los é perder-se no tempo.
• Não existe visão, pesquisa, explicação ou discurso que seja imparcial ou neutro.
• A ciência deve estar atrelada à ética, sendo erro fatal dispor-se a fazer tudo em nome dela.
• Não existe um método universalmente válido para a pesquisa científica, mas também não há pesquisa sem um método válido.
• Que todo conhecimento é um bem coletivo que deve ser divulgado.
• Que nenhuma pesquisa produzirá uma verdade que transcenda o tempo e o espaço no qual se circunscrevem o pesquisador, sua pesquisa e seu objeto.
• Mesmo sendo parcial, contingente e falível, o conhecimento pode contribuir para melhorar de algum modo o mundo.
BIBLIOGRAFIA:
ABRÃO, Bernadette Siqueira, org. História da Filosofia, Coleção Os Pensadores. 1ª ed. – São Paulo: Ed. Abril, 2004
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MOROZ, M.; GIANFALDONI, M. H. A. O Processo de Pesquisa: iniciação. Brasília: Plano Editora, 2002.
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