EM DEFESA DE PAULO FREIRE
Os inimigos da educação pública, universal, laica e orientada para o respeito e o acolhimento das diversidades tem lançado sobre la muitas acusações.
Uma delas é acusação de que nas escolas públicas os índices de aprovação não seriam condizentes com a má qualidade do ensino, da falta de infraestrutura e dos baixos salários reclamos por trabalhadores da educação pública básica do Brasil. Esse alto índice de aprovação seria fruto de conspiração dos professores e da a direção da escola, com o intuito de melhorar a imagem da instituição.
No entanto, pergunte a qualquer professor de escola pública o motivo de muitos alunos serem aprovados sem ter terem aprendido o mínimo. Não é porque seja uma opção ideológica deles, ou um interesse por manter status de "alto índice de aprovação", mas por pressão do governo. Governo este que é corrupto e que não tem nenhuma influência de Paulo Freire.
Não conheço nenhum professor que, ao aprovar um aluno que não aprendeu, o faça com sorriso no rosto. Sou professor há 15 anos e conheço de perto a realidade. De escola pública. Na zona rural e na periferia. Sofro isso no meu dia a dia. E sabe em quais governo nós professores fomos mais pressionados a isso? Nos governos de direita e liberais.
Aqui em MG, no tempo de Aécio e Anastasia, vi professores perderem emprego (contratados), por causa disso. Aprovar alguém sem que ela tenha aprendido o mínimo, é pular etapas. E essa visão de que o aprender passa por etapas, que cada sujeito tem um tempo diferente e de que existem diferentes formas de se ensinar e aprender, é que Paulo Freire propunha. Essa educação que usa de múltiplos recursos (laboratórios, biblioteca, estudos de campo, ida a museus, tela interativa, sala de internet, jogos, etc), é que tem influência de Paulo Freire.
Porém, ela é realidade apenas para que pode pagar as melhores escolas particulares. Os que não podem paga-la, continuaram a velha escola, baseada no "cuspe e giz", onde professores não contam com recursos para usar todas as suas potencialidades, e são obrigados pelos governantes, interessados em produzir estatísticas positivas, pois enxergam alunos e professores apenas como números em uma tabela de gastos.
Gastar com eles? O mínimo possível!
Se existe má qualidade do ensino nas escolas públicas, a culpa é da da falta de infraestrutura, da pobreza de recursos, da limitação frente às tecnologias, dos baixos salários pagos aos trabalhadores da educação pública básica do Brasil, todos eles frutos dos investimentos não realizados pelos gestores públicos em parceria com a burguesia nacional, cúmplice no superfaturamento de obras, fornecedora de notas fiscais frias, criadora de listas de propina.
Essa oligarquia nacional, que tem recursos suficientes para, além de pagar para seus filhos as melhores escolas, influenciadas por grandes educadores, podem também, em casa, propiciar a eles os melhores fatores extraescolares possíveis, com aulas particulares, cursos de informática, natação, violão, até culinária, celulares dos melhores modelos, com acesso à internet 24 horas por dia, computadores me casa, transporte escolar particular, etc.
Se nestas escolas particulares os índices de aprovação são condizentes com a qualidade do ensino, isto não se dá por "maquiagem" nas notas feitas por professores. Lá eles não precisam disso, pois não são pressionados a produzir estatísticas. Lá professores e alunos tem as condições ideais e materiais para efetivar a educação que Paulo Freire sonhou.
Só não chegam completamente a fazê-lo porque, geralmente, não estão orientadas nem orientam seus alunos a uma ideologia que inclua em vez de excluir, que acolha as diversidades e mitigue as desigualdades em vez de afirmar a diferenças e acentuar as divisões.
Se, por outro lado, naquelas escolas públicas os índices de aprovação não são condizentes com a qualidade do ensino, a culpa é, em última instância, da pressão para que professores aprovem, pois ela é o último de uma série de problemas que acometem a educação pública básica brasileira desde sua criação. Problemas causados não pela concepção ideológica por trás do modelo de Educação, mas pela vontade política de quem controla os recursos financeiros. isto é, as supracitadas oligarquias nacionais. Lá, alunos e professores estão muito longe de terem as condições materiais para construir uma escola nos moldes idealizados por Paulo Freire.
No dia em que a escola pública contar com o mesmo padrão material que as escolas particulares e tiverem e mente que não há neutralidade possível num mundo marcado por diferenças e desigualdades, teremos uma educação Paulofreireana. Neste dia todos nós sairemos ganhando.
Um pouco de Paulo Freire:
"O fundamental é que esta realidade, proibitiva ou não do pensar e do atuar autênticos, é criação dos homens. Daí ela não pode, por ser histórica tal como os homens que a criam, transformar-se por si só. Os homens que a criam são os mesmos que podem prosseguir transformando-a.
Pode-se pensar, diante desta afirmação, que estamos numa espécie de beco sem saída. Por que se a realidade, criada pelos homens, dificulta-lhes objetivamente seu atuar e seu pensar autênticos, como podem, então, transformá -la para que possam pensar e atuar verdadeiramente?
Se a realidade condiciona seu pensar e atuar não-autênticos, como podem pensar corretamente o pensar e o atuar incorretos? É que, no jogo interativo do atuar-pensar o mundo, se, num momento da experiência histórica dos homens, os obstáculos ao seu autêntico atuar e pensar não são visualizados, em outros, estes obstáculos passam a ser percebidos para, finalmente, os homens ganharem com eles
sua razão.
Os homens alcançam a razão dos obstáculos na medida em que sua ação é impedida. É atuando ou não podendo atuar que se lhes aclaram os obstáculos à ação, a qual não se dicotomiza da reflexão. E como é próprio da existência humana a atuação-reflexão, quando se impede um homem comprometido de atuar, os homens se sentem frustrados e por isso procuram superar a situação de frustração.
Impedidos de atuar, de refletir, os homens encontram-se profundamente feridos em si mesmos, como seres do compromisso. Compromisso com o mundo, que deve ser humanizado para a humanização dos homens, responsabilidade com estes, com a história. Este compromisso com a humanização do homem, que implica uma responsabilidade histórica, não pode realizar-se através do palavrório, nem de nenhuma outra forma de fuga do mundo, da realidade concreta, onde se encontram os homens concretos.
O compromisso, próprio da existência humana, só existe no engajamento com a realidade, de cujas "águas” os homens verdadeiramente comprometidos ficam “molhados”, ensopados. Somente assim o compromisso é verdadeiro. Ao experienciá -lo, num ato que necessariamente é corajoso, decidido e consciente, os homens já não se dizem neutros.
A neutralidade frente ao mundo, frente ao histórico, frente aos valores, reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. Este medo quase sempre resulta de um “compromisso” contra os homens, contra sua humanização, por parte dos que se dizem neutros. Estão “comprometidos” consigo mesmos, com seus interesses ou com os interesses dos grupos aos quais pertencem.
E como este não é um compromisso verdadeiro, assumem a neutralidade impossível. O verdadeiro compromisso é a solidariedade, e não a solidariedade com os que negam o compromisso solidário, mas com aqueles que, na situação concreta, se encontram convertidos em “coisas”.
Comprometer-se com a desumanização é assumi-la e, inexoravelmente, desumanizar-se também. Esta é a razão pela qual o verdadeiro compromisso, que é sempre solidário, não pode reduzir-se jamais a gestos de falsa generosidade, nem tampouco ser um ato unilateral, no qual quem se compromete é o sujeito ativo do trabalho comprometido e aquele com quem se compromete a incidência de seu compromisso. Isto seria anular a essência do compromisso, que, sendo encontro dinâmico de homens solidários, ao alcançar aqueles com os quais alguém se compromete, volta destes para ele, abraçando a todos num único gesto amoroso."
(FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e terra, 2011.)
Livro em pdf no link: [https://construindoumaprendizado.files.wordpress.com/2012/12/paulo-freire-educacao-e-mudanca-desbloqueado.pdf]
Uma delas é acusação de que nas escolas públicas os índices de aprovação não seriam condizentes com a má qualidade do ensino, da falta de infraestrutura e dos baixos salários reclamos por trabalhadores da educação pública básica do Brasil. Esse alto índice de aprovação seria fruto de conspiração dos professores e da a direção da escola, com o intuito de melhorar a imagem da instituição.
No entanto, pergunte a qualquer professor de escola pública o motivo de muitos alunos serem aprovados sem ter terem aprendido o mínimo. Não é porque seja uma opção ideológica deles, ou um interesse por manter status de "alto índice de aprovação", mas por pressão do governo. Governo este que é corrupto e que não tem nenhuma influência de Paulo Freire.
Não conheço nenhum professor que, ao aprovar um aluno que não aprendeu, o faça com sorriso no rosto. Sou professor há 15 anos e conheço de perto a realidade. De escola pública. Na zona rural e na periferia. Sofro isso no meu dia a dia. E sabe em quais governo nós professores fomos mais pressionados a isso? Nos governos de direita e liberais.
Aqui em MG, no tempo de Aécio e Anastasia, vi professores perderem emprego (contratados), por causa disso. Aprovar alguém sem que ela tenha aprendido o mínimo, é pular etapas. E essa visão de que o aprender passa por etapas, que cada sujeito tem um tempo diferente e de que existem diferentes formas de se ensinar e aprender, é que Paulo Freire propunha. Essa educação que usa de múltiplos recursos (laboratórios, biblioteca, estudos de campo, ida a museus, tela interativa, sala de internet, jogos, etc), é que tem influência de Paulo Freire.
Porém, ela é realidade apenas para que pode pagar as melhores escolas particulares. Os que não podem paga-la, continuaram a velha escola, baseada no "cuspe e giz", onde professores não contam com recursos para usar todas as suas potencialidades, e são obrigados pelos governantes, interessados em produzir estatísticas positivas, pois enxergam alunos e professores apenas como números em uma tabela de gastos.
Gastar com eles? O mínimo possível!
Se existe má qualidade do ensino nas escolas públicas, a culpa é da da falta de infraestrutura, da pobreza de recursos, da limitação frente às tecnologias, dos baixos salários pagos aos trabalhadores da educação pública básica do Brasil, todos eles frutos dos investimentos não realizados pelos gestores públicos em parceria com a burguesia nacional, cúmplice no superfaturamento de obras, fornecedora de notas fiscais frias, criadora de listas de propina.
Essa oligarquia nacional, que tem recursos suficientes para, além de pagar para seus filhos as melhores escolas, influenciadas por grandes educadores, podem também, em casa, propiciar a eles os melhores fatores extraescolares possíveis, com aulas particulares, cursos de informática, natação, violão, até culinária, celulares dos melhores modelos, com acesso à internet 24 horas por dia, computadores me casa, transporte escolar particular, etc.
Se nestas escolas particulares os índices de aprovação são condizentes com a qualidade do ensino, isto não se dá por "maquiagem" nas notas feitas por professores. Lá eles não precisam disso, pois não são pressionados a produzir estatísticas. Lá professores e alunos tem as condições ideais e materiais para efetivar a educação que Paulo Freire sonhou.
Só não chegam completamente a fazê-lo porque, geralmente, não estão orientadas nem orientam seus alunos a uma ideologia que inclua em vez de excluir, que acolha as diversidades e mitigue as desigualdades em vez de afirmar a diferenças e acentuar as divisões.
Se, por outro lado, naquelas escolas públicas os índices de aprovação não são condizentes com a qualidade do ensino, a culpa é, em última instância, da pressão para que professores aprovem, pois ela é o último de uma série de problemas que acometem a educação pública básica brasileira desde sua criação. Problemas causados não pela concepção ideológica por trás do modelo de Educação, mas pela vontade política de quem controla os recursos financeiros. isto é, as supracitadas oligarquias nacionais. Lá, alunos e professores estão muito longe de terem as condições materiais para construir uma escola nos moldes idealizados por Paulo Freire.
No dia em que a escola pública contar com o mesmo padrão material que as escolas particulares e tiverem e mente que não há neutralidade possível num mundo marcado por diferenças e desigualdades, teremos uma educação Paulofreireana. Neste dia todos nós sairemos ganhando.
Um pouco de Paulo Freire:
"O fundamental é que esta realidade, proibitiva ou não do pensar e do atuar autênticos, é criação dos homens. Daí ela não pode, por ser histórica tal como os homens que a criam, transformar-se por si só. Os homens que a criam são os mesmos que podem prosseguir transformando-a.
Pode-se pensar, diante desta afirmação, que estamos numa espécie de beco sem saída. Por que se a realidade, criada pelos homens, dificulta-lhes objetivamente seu atuar e seu pensar autênticos, como podem, então, transformá -la para que possam pensar e atuar verdadeiramente?
Se a realidade condiciona seu pensar e atuar não-autênticos, como podem pensar corretamente o pensar e o atuar incorretos? É que, no jogo interativo do atuar-pensar o mundo, se, num momento da experiência histórica dos homens, os obstáculos ao seu autêntico atuar e pensar não são visualizados, em outros, estes obstáculos passam a ser percebidos para, finalmente, os homens ganharem com eles
sua razão.
Os homens alcançam a razão dos obstáculos na medida em que sua ação é impedida. É atuando ou não podendo atuar que se lhes aclaram os obstáculos à ação, a qual não se dicotomiza da reflexão. E como é próprio da existência humana a atuação-reflexão, quando se impede um homem comprometido de atuar, os homens se sentem frustrados e por isso procuram superar a situação de frustração.
Impedidos de atuar, de refletir, os homens encontram-se profundamente feridos em si mesmos, como seres do compromisso. Compromisso com o mundo, que deve ser humanizado para a humanização dos homens, responsabilidade com estes, com a história. Este compromisso com a humanização do homem, que implica uma responsabilidade histórica, não pode realizar-se através do palavrório, nem de nenhuma outra forma de fuga do mundo, da realidade concreta, onde se encontram os homens concretos.
O compromisso, próprio da existência humana, só existe no engajamento com a realidade, de cujas "águas” os homens verdadeiramente comprometidos ficam “molhados”, ensopados. Somente assim o compromisso é verdadeiro. Ao experienciá -lo, num ato que necessariamente é corajoso, decidido e consciente, os homens já não se dizem neutros.
A neutralidade frente ao mundo, frente ao histórico, frente aos valores, reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. Este medo quase sempre resulta de um “compromisso” contra os homens, contra sua humanização, por parte dos que se dizem neutros. Estão “comprometidos” consigo mesmos, com seus interesses ou com os interesses dos grupos aos quais pertencem.
E como este não é um compromisso verdadeiro, assumem a neutralidade impossível. O verdadeiro compromisso é a solidariedade, e não a solidariedade com os que negam o compromisso solidário, mas com aqueles que, na situação concreta, se encontram convertidos em “coisas”.
Comprometer-se com a desumanização é assumi-la e, inexoravelmente, desumanizar-se também. Esta é a razão pela qual o verdadeiro compromisso, que é sempre solidário, não pode reduzir-se jamais a gestos de falsa generosidade, nem tampouco ser um ato unilateral, no qual quem se compromete é o sujeito ativo do trabalho comprometido e aquele com quem se compromete a incidência de seu compromisso. Isto seria anular a essência do compromisso, que, sendo encontro dinâmico de homens solidários, ao alcançar aqueles com os quais alguém se compromete, volta destes para ele, abraçando a todos num único gesto amoroso."
(FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e terra, 2011.)
Livro em pdf no link: [https://construindoumaprendizado.files.wordpress.com/2012/12/paulo-freire-educacao-e-mudanca-desbloqueado.pdf]
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